quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Quando toco a tua face...

Quando toco a tua face, meu amor

Sinto a força do amanhã

A magia feita leve

O teu coração de neve

Que um dia, derreterá...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Escrevo...




Escrevo...

Escrevo gestos, pensamentos
Escrevo versos, ideias, paisagens
E escrevo dias, horas, escrevo vidas

Escrevo...
As palavras por dizer
Sentimentos à deriva
Escrevo sóis, escrevo luas
Jardins, prados e ruas
E uso as palavras nuas
Pra descrever amores


Escrevo alegrias, escrevo tristezas
Em catadupas saindo
Escrevo a raiva, escrevo a dor
Até as pétalas de uma flor...
E o som de uma criança rindo

Só não escrevo sobre a dor
De alguém que está caindo

Rasgo as palavras com a escrita
Grito a minha desdita
De sofrer o teu amor

Um dia
Quando a minha mão se recusar
Quando não mais conseguir escrever
Só então gravarei
Em estradas de luz
No etéreo pensamento
Tudo quanto quiz escrever
Da importância do momento

E desenharei em pormenor
Em contrastes de maga luz
O trejeito do teu olhar
Tua face tranquila
A suavidade do teu falar

A silhueta do teu rosto
Teu corpo quente, de Agosto
O quanto me levaste a amar

Escrevo e rescrevo
Tudo quanto eu senti
Desde o dia em que te vi...


Al

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Uma tarde, como outra qualquer...






· Ao fundo, uma dezena de enfunados veleiros deixam esteiras de prata e luz sobre as águas, de um azul escuro profundo...



Gaivotas esvoaçam tontas, rasando a superfície do mar, intimidando os invasores, que se desdobram em tarefas, libertando treliças, cabos, aproveitando o máximo do vento amigo que os há-de levar a bom porto - e a uma muito almejada taça.

Farrapos de algodão disfarçado de nuvem, espalham-se pelo azul do céu, enquanto junto à linha do horizonte, de mãos dadas com as águas, uma faixa rósea antevê longínquas paragens, muito para além do que a vista possa alcançar.


Acabo o café e, muito displicentemente, pego na "sweat-shirt", nas chaves do velho desportivo e ponho-me a caminho de casa: rai's partam as tarefas domésticas!!!

Al, Novembro

Silêncio


SILÊNCIO


Silêncio

Noite prenhe
De ideias que aparecem
E logo se desvanecem

Silêncio

Prenhe de riqueza
Ideais de beleza

Tempos que hão-de vir?
De um futuro desejado
De um porvir
De angústias banhado

Silêncio

De mágoas que já lá vão
De eternas recordações de verão
De odores e sons
E promessas e vazios
Tão grandes, de rios

De lágrimas e mar imenso
Raivas! De amor intenso

Silêncio...

Que mais, senão sentir?



sexta-feira, 7 de novembro de 2008

de repente








...E de repente apeteceu-me
Olhar a lua e as estrelas
E segurando a tua mão
Apontar para elas
- Sentar-me no chão
Contar-te os meus segredos
Partilhar os meus medos

E apeteceu-me voar
Para uma praia sem nome nem tempo nem lugar
E sentir-me "gente"
- tudo isso eu senti
No momento em que te vi...

Al, (sem data conhecida)

http://www.youtube.com/watch?v=0ult1yTqcXU

(Imaginary day, Pat Metheney)



Esperança




P'las encostas da minha vida
Sopram ventos de tristeza
Passam nuvens de solidão
Recordações de fugida
Uma vida em turbilhão

P'las encostas da minha vida
Corre lava incandescente
Sangue, néctar, dia-a-dia
Rios loucos de euforia
Projecto de vida diferente

P'las encostas da minha vida
Solto cavalos de esperança
Dou largas à imaginação
Choro, rio, sonho espaços
Suspito, amo, sofro abraços
Sem contar, acordo no chão

P'las encostas da minha vida
Há flores, caminhos e regatos
De calor e paixão feitos
E luares, e noites belas
De tanto deixarem sequelas
Ao amor colocam defeitos

P'las encostas da minha vida
ainda encontro sol, a brisa, o mar
- refrescante, esse teu olhar!
Um dia, 'inda hei-de amar
Alguém que não de fugida...


Al
(Wagner - Die Walküre Act 3 - Ride of the Valkyries)

Insónia



A noite prolonga
Bocejos de insónia
Alvores de madrugada
Quando chegará
A paz desejada?

Por caminhos conhecidos
De angústia e temor
Espaços percorridos
Antes da dor
De ver destruídos
Castelos de amor

Incendeia-me a alma
Tua voz, teu gesto
Tua expressão calma
Teu olhar, de resto
Prenhe de significado
Tolhe-me paralizado
De ternura e amor
Anseio que a dor
Para sempre se vá

E a noite prolonga
Bocejos de insónia
Alvores de madrugada
Terá chegado a felicidade desejada?

Al
http://www.youtube.com/watch?v=yftOy8kz7aE
(Teardrop, Massive Attack)

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Soubera eu



P'los meus dedos fluem
Suspiros de tédio, cansaço
Páginas de amor incontido
ilusões, enganos, espaço
de sonho interrompido

Primaveras de contentamento
Sem jardins, sem flores
Nem brisas de mar
Antes e sempre um acabar
-sem tempo de cimentar
Laços, caminhos, procuras

Eterno vaguear de ternuras
Entre copos, corpos e loucuras
Cheias de agora - sem futuro
Onde até o ar da noite, puro
Deixa dor e sofrimento

Arde no peito em lamento
Olhar perdido, amor desfeito
Ilusão de momento
Eterno regressar
Às noites sós, ao luar
À praia de sonho, ao mar
À miragem de um gesto
Correr para ti, de resto
É meu destino certo
E tu aqui tão perto

Musa de memórias
E traços, e pedaços de lua
Em noites de maga música
(Segura companhia)
Soubera eu que existias
E por ti morreria

(Elysium, Lisa Gerard)

Riscos



Risco
As palavras que não saem
Os pensamentos que correm
À velocidade do tempo
Porém em lamento

Risco
Os dias sem ti
O sono, o sonho
O teu cheiro
Entranhado em mim
Que me deixará por fim
Um dia sem esperar

Risco
Os dias que passam
A dor da luz
Cumplicidades forjadas
Em noites de amor
Expressões suadas

Ah se outra coisa houvesse
Que não esta solidão
Insana, cruel, instalada
Ah se o vento trouxesse
De novo a madrugada
Envolta em lençóis de luz
Ainda estremunhada
E sossegasse de vez
Minh'alma alvoroçada

Al, (sem data)

http://www.youtube.com/watch?v=CyLo9-Voy5s&feature=related
("Air" da suite Nº 3 em D Maior, J. Sebastian Bach)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

I was bigger than life, once...


I was bigger than life, once…
Now
I’m just a sparkle in the rain
a feather
a teardrop
a flame
a shadow of someone’s life
to blame?



I was bigger than life, once…
Now
I’m a reckless
I’m a cloud on a sunny day
I’m a simple breath
A little stone, thrown away
But even so
I’m here to stay…

http://www.youtube.com/watch?v=EYbUCvz1LYE

(Talking Heads - Once in a Lifetime)

Al

Duas rodas, uma paixão antiga





Perguntava-me um amigo e colega de profissão, que raio via eu nas motos que tanto me entusiasmava. Disse-lhe em três penadas o que considero sempre um pouco difícil de traduzir.

Tudo começou com o Cucciolo do meu pai. Recordo-o sempre que pegava no pequeno e elegante motociclo, quase como num cerimonial, arrancando estrada fora, aparecendo horas depois, com o semblante já descarregado, porque a vida, à época - "malgré tout", era bem mais difícil que hoje... Recordo o verde after-eight do quadro, com o risquinho branco ao longo da estrutura, o volante e pedaleira do motor, através da qual se colocava a máquina a respirar, fosse em cima do descanso fosse em pleno andamento, e as pequenas hastes das válvulas a respirar no exterior, sujando de óleo o motor...


Anos depois, recorrendo às minhas economias e a uma ajuda substancial do meu pai, adquiri a primeira duas rodas, uma 50cc de que não gostava particularmente mas que era melhor que nada. Meses depois estaria completamente modificada, a meu gosto, esguia, elegante, com uns avanços inéditos para a época e um "cantar" que nada tinha do original. O tempo foi passando e as máquinas foram-se sucedendo: com intervalos uns maiores outros mais pequenos, fui tendo sempre uma duas rodas para os meus passeios de evasão, de liberdade, de escape, catársicos- diria mesmo. Esse é a razão, o "leit-motiv", chamem-lhe o que quiserem, a justificação para a minha paixão: as duas rodas foram as asas de que precisei, em miúdo, para me libertar, para ir mais longe, para soltar amarras. Possibilitaram-me passar por experiências que não teria vivido se não tivesse a "minha motinha". Hoje, as amarras são diferentes, e as necessidades de evasão serão significativamente diferentes; às vezes, um simples passeio de moto pela marginal, afasta fantasmas, nuvens negras, coloca-me um sorriso de satisfação na cara.



Hoje, ao montar a minha bela Ducati, ocorreu-me dizer "pai, o teu filho tem uma Ducati - sim, aquela cujo nome começou como Cucciolo e que tu montavas sempre que a vida te parecia mais difícil e necessitavas de evasão... Aposto em como ficarias a olhar pra ela, orgulhoso, não só pelo que almejei, mas porque também eu vivo intensamente essa sensação indescritível de liberdade, de "planar acima do comum" sempre que pego na minha moto e parto sem destino nem hora certos..."
Recorrendo a uma tirada do filme “The fastest Indian”, costumo dizer que "Vivo mais, uma hora em cima da minha Ducati, que algumas pessoas durante uma vida inteira" - Em tua homenagem pai, onde quer que estejas....


Como explicar isto ao comum dos mortais??





Al, Out2007

Náufragos


· Náufragos…
· todos nós somos náufragos
· de pensamentos em tumulto
· de tempestades de razão
· De correrias sem pausa
· desespero de causa
· em total e absoluta solidão
·
· Náufragos…
· todos nós somos náufragos
· de casamentos perfeitos
· relacionamentos desfeitos…
· De relações proibidas
· De lágrimas incontidas
· Em esperança diluídas
·
· Náufragos, tu e eu somos náufragos…
· - Todos nós somos náufragos!
· de profissões toleradas
· de expectativas goradas
· do amanhã que não vem
· De sorrisos de desdém
·
· Náufragos…
· na confusão de sentimentos
· em torrrentes de pensamentos
· na lava de um vulcão
· a que, por ironia, chamamos paixão.

· Al

Recomeçar


Recomeçar
Recomeço pela enésima vez, a escrever num blog - é claro que não sou virgem nestas lides, neste hábito de escrever, como já referi por aí, algures... Aliás, escrever, constitui, desde que me conheço, uma necessidade. A par da leitura.

Recordo que, ainda mal tinha digerido a bibliografia (fantástica) de Júlio Verne, já sentia necessidade de transpôr para o papel, historietas inventadas, depurações não apenas do que lera, mas fruto de uma imaginação criadora fértil, único caminho que encontrara para fugir à ruralidade atrofiante que à época me rodeava. Nessa altura, a província era isso mesmo, e as diferenças não se resumiam ao vestir e linguajar: cada aldeia, cada vila era uma fortaleza fechada sobre si e sobre quem lá ficasse. Desse tempo, ficou-me o gosto pela natureza, o quasi deslumbramento pelo que ela nos oferece, desde o chilrear da passarada, a música do rumorejar de um riacho, à admiração e respeito perante as vagas do mar alteroso, enquanto o sol tempera de vermelho-róseo o entardecer de um dia de inverno outonal... ah, essa mágica catarse, os fins-de-tarde na Praia do Pedrógão!