segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Duas rodas, uma paixão antiga





Perguntava-me um amigo e colega de profissão, que raio via eu nas motos que tanto me entusiasmava. Disse-lhe em três penadas o que considero sempre um pouco difícil de traduzir.

Tudo começou com o Cucciolo do meu pai. Recordo-o sempre que pegava no pequeno e elegante motociclo, quase como num cerimonial, arrancando estrada fora, aparecendo horas depois, com o semblante já descarregado, porque a vida, à época - "malgré tout", era bem mais difícil que hoje... Recordo o verde after-eight do quadro, com o risquinho branco ao longo da estrutura, o volante e pedaleira do motor, através da qual se colocava a máquina a respirar, fosse em cima do descanso fosse em pleno andamento, e as pequenas hastes das válvulas a respirar no exterior, sujando de óleo o motor...


Anos depois, recorrendo às minhas economias e a uma ajuda substancial do meu pai, adquiri a primeira duas rodas, uma 50cc de que não gostava particularmente mas que era melhor que nada. Meses depois estaria completamente modificada, a meu gosto, esguia, elegante, com uns avanços inéditos para a época e um "cantar" que nada tinha do original. O tempo foi passando e as máquinas foram-se sucedendo: com intervalos uns maiores outros mais pequenos, fui tendo sempre uma duas rodas para os meus passeios de evasão, de liberdade, de escape, catársicos- diria mesmo. Esse é a razão, o "leit-motiv", chamem-lhe o que quiserem, a justificação para a minha paixão: as duas rodas foram as asas de que precisei, em miúdo, para me libertar, para ir mais longe, para soltar amarras. Possibilitaram-me passar por experiências que não teria vivido se não tivesse a "minha motinha". Hoje, as amarras são diferentes, e as necessidades de evasão serão significativamente diferentes; às vezes, um simples passeio de moto pela marginal, afasta fantasmas, nuvens negras, coloca-me um sorriso de satisfação na cara.



Hoje, ao montar a minha bela Ducati, ocorreu-me dizer "pai, o teu filho tem uma Ducati - sim, aquela cujo nome começou como Cucciolo e que tu montavas sempre que a vida te parecia mais difícil e necessitavas de evasão... Aposto em como ficarias a olhar pra ela, orgulhoso, não só pelo que almejei, mas porque também eu vivo intensamente essa sensação indescritível de liberdade, de "planar acima do comum" sempre que pego na minha moto e parto sem destino nem hora certos..."
Recorrendo a uma tirada do filme “The fastest Indian”, costumo dizer que "Vivo mais, uma hora em cima da minha Ducati, que algumas pessoas durante uma vida inteira" - Em tua homenagem pai, onde quer que estejas....


Como explicar isto ao comum dos mortais??





Al, Out2007

1 comentário:

Unknown disse...

n se explica!!! é uma bichinho q só ken sente e tem cá dentro é q sabe!! e tb é verdade q qd andamos de mota a liberdade é de tal forma, q afasta mesmo todas as coisinhas más!!!